As novas diretrizes para a segurança de edifícios e a instalação de estações de recarga para veículos elétricos em garagens estão prestes a ser lançada. A expectativa é que as normas sejam divulgadas nas próximas semanas.
A informação veio do coronel Max Alexandre Schroeder, comandante da Escola Superior de Bombeiros de São Paulo, durante o “Workshop Internacional Eletromobilidade & Segurança nas Edificações”, que aconteceu na última semana, no Anhembi, em São Paulo.
Um ano de estudos e testes
Essa nova regulamentação é resultado de mais de um ano de intensos estudos técnicos e testes práticos. Tudo começou com uma consulta pública lançada pelos bombeiros de São Paulo em 5 de abril de 2024, por meio da Portaria CCB-001/800/2024.
Durante esse período, a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) colaborou ativamente com o Corpo de Bombeiros.
Segundo Ricardo Bastos, presidente da ABVE, o principal objetivo foi "testar os protocolos de segurança dos próprios veículos e das baterias em condições reais", além de apresentar os equipamentos que já estão disponíveis no Brasil.
Pontos-chave da regulamentação
Entre os pontos de consenso destacados pelos especialistas, estão a importância de sistemas automáticos de combate a incêndios em garagens, como sprinklers e detectores de fumaça.
Também foram abordados o risco de reignição em baterias de lítio, a toxicidade dos gases liberados e o uso estratégico de mantas de supre“são de fogo em certas condições.
O major Ronaldo Ribeiro também enfatizou a necessidade de os bombeiros absorverem o máximo de experiência,”adaptando-se rapidamente às inovações tecnológicas.
"Procuramos adaptar técnicas vistas no exterior à realidade brasileira e já conseguimos, por exemplo, reduzir em 25% o uso de água no combate".
Durante sua palestra, o major informou que a série de testes e treinamentos que antecederam o workshop resultou em 200 bombeiros de todo o Brasil treinados e capacitados para atuar em incêndios que envolvem as novas tecnologias.
Desafios dos carros elétricos
Há pouco mais de um ano, uma proposta inicial do Corpo de Bombeiros de São Paulo para regras mais rígidas na instalação de carregadores, que poderia inviabilizar a prática, gerou repercussão. Houve um recuo e uma aproximação com a ABVE para encontrar soluções seguras e viáveis.
As novas diretrizes, que serão apresentadas nas próximas semanas, não incluirão exigências como distanciamento de 5 metros entre carros em recarga, instalação de paredes corta-fogo ou distinção entre áreas abertas e fechadas.
Os pontos principais serão as instalações elétricas, a exigência de carregadores do tipo wallbox e a conformidade com a NBR para instalações de carregadores de veículos elétricos.
O foco dos Corpos de Bombeiros é desenvolver os métodos mais seguros para conter incêndios em carros elétricos. O laboratório recém-inaugurado em Franco da Rocha, com chuveiros automáticos, detectores de fumaça e dispositivos de extração de gases, já realizou testes com veículos elétricos, híbridos e a combustão para analisar seus comportamentos.
Especialistas estrangeiros no workshop também compartilharam suas experiências. Danos em baterias podem levar à fuga térmica, um processo descontrolado de liberação de calor. A duração do incêndio pode ser proporcional à carga da bateria.
Carros elétricos e híbridos possuem sistemas de gerenciamento de temperatura da bateria, usando ventilação, fluido de arrefecimento e até ar-condicionado para manter a temperatura ideal. Barreiras físicas e químicas também são empregadas para prevenir que uma falha em uma célula se torne um incêndio catastrófico.
Outro desafio é o consumo elevado de água para conter esses incêndios, algo que os bombeiros avaliam para dimensionar o contingente necessário. O tempo de resposta também é crucial.
O risco de reignição após o controle do incêndio é real, exigindo que o veículo sinistrado seja levado para um local aberto. Reignições são comuns.
Testes com novos extintores para baterias de íons de lítio foram feitos, mas o volume das chamas indicou que a aproximação de alguém sem treinamento e equipamentos de proteção seria insegura.
As proteções inicialmente propostas pelos Bombeiros de São Paulo, como aspersores de água no teto, exaustores e paredes corta-fogo, serão cruciais para evitar a propagação do fogo para o prédio ou outros carros e para garantir uma atmosfera minimamente respirável em garagens.