Estreante na Virada Cultural de Belo Horizonte, a praça Raul Soares se rendeu ao samba desde sábado (24), quando o lugar ou a ser palco de uma série de apresentações que exaltam o gênero.

Na tarde deste domingo (25), segundo e último dia do evento, por volta de 14h, o palco foi embalado pelo show belo-horizontina Adriana Araújo. Em sua segunda participação consecutiva na Virada Cultural de BH, ela começou o show, como costuma fazer, do meio da multidão. Para abrir os trabalhos, escolheu “Canto das Três Raças”, eternizada na voz de outra mineira: Clara Nunes. 

Antes dela, o cantor e compositor Toninho Geraes, que lançou o álbum “Aluayê, Os Novos Afro-Sambas”, em 2022, se apresentou com Chico Alves.

Adriana Araújo em meio ao público durante o show | Crédito: Fred Magno/O Tempo
Adriana Araújo em meio ao público durante o show | Crédito: Fred Magno/O Tempo

Durante os espetáculos, o público cantou junto dos artistas, houve até quem arriscasse uns inhos, mas a regra mesmo foi gente se abanando em baixo de um sol que não deu trégua. 

Com temperatura média de 29° no horário dos shows, a plateia precisou se espremer em frente sem ter sombra à vista. 

O problema é que o palco foi montado em frente a uma área onde quatro arelas de pedestres se encontram, sendo ladeadas pelos jardins da praça, que, estavam isolados por gradis para evitar que fossem pisoteados e danificados. 

Com isso, os presentes precisaram se aglomerar em espécies de corredores, já que não havia um espaço amplo em frente ao elevado onde os artistas se apresentaram. Já quem tentou se refugiar do sol forte lidou com o ônus de ver os shows de longe: a praça só possui, hoje, duas árvores que dão sombra. Naturalmente, o espaço foi disputado. Cadeiras de praia com sombreiros chegaram a ser espalhados em uma via lateral, contudo, dispostas de forma que não era possível ter visão do palco.

Público precisou se organizar em corredores para assistir aos shows no Palco Samba, na Raul Soares | Crédito: Fred Magno/O Tempo
Público precisou se organizar em corredores para assistir aos shows no Palco Samba, na Raul Soares | Crédito: Fred Magno/O Tempo

Apesar dos empecilhos, a presença da cantora nascida e criada na Pedreira Prado Lopes atraiu uma legião de fãs. Alan Rodrigues, 30, conta que saiu de casa justamente para assistir a Adriana Araújo. Fernando Santos, 38, também. “Eu acompanho ela há anos, desde que era do ‘Simplicidade do Samba’”, comenta ele, que, embora empolgado e aprovando a inclusão da Raul Soares no circuito da Virada, é crítico à estrutura. “Acho que podia melhorar. O palco ficou em um lugar desfavorável”, aponta.

Adriana Araújo, como os depoimentos colhidos pela reportagem demonstram, é uma das potências da nova safra do samba de BH – cena que, nos últimos anos, ganhou força na cidade.

É o que aponta Rodrigo Jorge Saff, que há 25 anos produz eventos ligados a esse universo “Há coisa de dois ou três anos, principalmente depois da pandemia, tivemos essa efervescência em termos de eventos e casas que privilegiam o samba raiz na cidade, caso do Bar do Cacá (no bairro São Paulo, na zona leste) e do Três Pretos Bar (no Jardim Montanhês, na região noroeste), que têm uma programação com atividades semanais”, observou o produtor em entrevista a O TEMPO. O primeiro estabelecimento citado por ele, aliás, é um dos principais palcos em que Adriana tradicionalmente se apresenta.

Além de reverenciar a força do samba na capital mineira, a programação da Virada Cultural na Raul Soares também cumpre a função de exaltar a vitalidade da região, como explicou a secretária municipal de Cultura, Eliane Parreiras, em entrevista a FM O Tempo, na última quinta-feira (22). 

“Estamos chegando pela primeira vez nessa região, que é um polo criativo, com uma rica cena gastronômica, abrigando duas grandes referências de BH, o Mercado Central e o Mercado Novo, além da Galeria São Vicente”, disse a gestora, itindo que a ampliação do circuito surge em um contexto especial: ocorre que, neste ano, o evento acontece sem um de seus principais palcos, a Praça da Estação, atualmente fechada para obras de revitalização. Por isso, foi preciso inovar, levando a programação até o novo logadouro.