Ele é a voz de “Mama África” e de um dos maiores sucessos da carreira de Daniela Mercury. Chico César, paraibano de Catolé do Rocha, foi inscrevendo aos poucos o seu nome na música brasileira, sendo gravado por Maria Bethânia e Elba Ramalho, até se tornar um dos artistas mais conhecidos do cenário contemporâneo. 

Com 60 anos de vida, mais da metade deles dedicados à estrada, Chico César coleciona hits como “À Primeira Vista”, “Estado de Poesia”, “Onde Estará o Meu Amor”, “Mand'ela”, “Felicidade”, entre muitos outros, unindo lirismo e indignação política, numa receita que abarca a diversidade musical brasileira através do reggae, da balada, da canção de matriz africana, do forró e do próprio samba. 

Em 1995, depois de muito lutar por um lugar ao sol, Chico César finalmente conseguiu lançar seu primeiro álbum pela gravadora independente Velas. Em “Aos Vivos”, ele revelou ao mundo os futuros sucessos “Mama África” e “À Primeira Vista”, além de gravar uma parceria com Itamar Assumpção e dar a sua versão para “Paraíba”, clássico de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. 

No álbum seguinte, “Cuscuz Clã”, Chico César deixou clara a sua vertente política, com um discurso fortemente antirracista, que voltaria a dar o tom em “Respeitem Meus Cabelos, Brancos”, de 2002, que trouxe a participação de Chico Buarque, referendando a entrada de Chico César no panteão da MPB. 

Outro momento de destaque foi quando a vencedora do BBB 21 e sua conterrânea, Juliette Freire, cantou no programa a música “Deus me Proteja”, que, na gravação original de Chico César, trazia a presença especialíssima de Dominguinhos. Graças a essa exposição, a canção alcançou o topo das paradas de sucesso, e colocou o nome do músico paraibano novamente em evidência. 

Com um estilo que canta as raízes de seu povo sem deixar de estar atento ao que acontece ao redor do mundo, Chico César é um dos artistas mais expressivos de um ciclo da música brasileira que segue dando frutos e tem influenciado toda uma nova geração na MPB. Filho da Mama África, Chico César é um autêntico artista brasileiro.

“À Primeira Vista” (balada, 1995) – Chico César

Em 1991, Chico César foi convidado para uma turnê na Alemanha. A boa repercussão o animou a investir em seu primeiro disco, “Aos Vivos”, de 1995, que já trazia o mega sucesso “À Primeira Vista”, música que seria regravada por Daniela Mercury, já no ano seguinte.

Em 1995, a balada também recebeu uma versão da multi-instrumentista Badi Assad. Entre os sucessos de Chico César também se destacam “Mama África”, “Deus Me Proteja de Mim”, “Onde Estará o Meu Amor”, “Estado de Poesia”, e etc.

“Mama África” (MPB, 1995) – Chico César

Chico César conta que estava em um táxi quando melodia e letra de “Mama África” apareceram em sua cabeça e, sem estar munido de lápis, caneta, ou um gravador, começou a repeti-las insistentemente na cabeça para não esquecer, deixando inclusive de dar atenção à irmã.

Natural de Catolé do Rocha, interior da Paraíba, a inspiração apareceu quando, de mudança para São Paulo, observou, em um grande mercado, diversas mães que em meio ao trabalho também tinham que se preocupar em amamentar os filhos, cuidar deles e se atentar para com todas as necessidades da prole. Daí os versos que descrevem essa realidade.

No fundo, a música é uma homenagem não só à figura da mãe, mas, acima de tudo, um hino à coragem da mulher brasileira, que contra todos os preconceitos e percalços traça o seu caminho com determinação e coragem.

“Mand’ela” (MPB, 1996) – Chico César e Zeca Baleiro

De forma bem humorada e espirituosa a dupla de nordestinos Chico César e Zeca Baleiro, o primeiro paraibano e o segundo maranhense, criou em 1996 uma inusitada homenagem para o líder sul-africano Nelson Mandela.

Lançada pelo mineiro Maurício Tizumba, em seu álbum de estreia “África Gerais”, no qual incluiu uma citação à cidade de Sabará, a canção usa e abusa do jogo de palavras para se referir à cultura negra, além de uma impagável brincadeira com o nome do arcebispo da Igreja Anglicana, Desmond Tutu, um dos principais aliados de Nelson Mandela na luta para a implantação da paz e contra o Apartheid, o regime de discriminação racial contra negros e a favor dos brancos na África do Sul.

“Mand’ela” foi posteriormente gravada por Chico César, um dos seus autores, no álbum “Cuscuz Clã”, no mesmo ano de 1996. E repetiu o êxito.

“Felicidade” (balada, 2010) – Chico César e Marcelo Jeneci

Disco de estreia do cantor e compositor paulista Marcelo Jeneci, “Feito Pra Acabar”, de 2010, congrega parcerias do anfitrião com nomes de peso da música brasileira, como Arnaldo Antunes, Luiz Tatit e Zé Miguel Wisnik.

No entanto, além da faixa-título, o destaque ficou por conta de “Felicidade”, música escrita com o paraibano Chico César, que condensa, em seus últimos versos, a “fofura” desse trabalho: “Chorar, sorrir também e dançar/ Dançar na chuva quando a chuva vem”.

Para ajudar no êxito da empreitada, essa balada cheia de boas energias e mensagens positivas ganhou videoclipe que já acumula 21 milhões de cliques.

“Estado de Poesia” (MPB, 2013) – Chico César

O caminho que o paraibano Chico César fez para criar o novo foi revirar os olhos à origem. Seu hiato de oito anos sem disco de inéditas acabou interrompido em 2015, com o lançamento de “Estado de Poesia”, cujo título é, justamente, o da única canção que já havia sido registrada, em 2013, por Maria Bethânia, no álbum “Carta de Amor”.

“Essa música marca o encontro de dois estados: o do meu interior, subjetivo, com o geopolítico, da minha Paraíba, do Estado feito sensação e, ao mesmo tempo, máquina institucional, opressora, contra a qual a poesia serve como arma para a gente lutar, no sentido de encarar a vida pelo seu viés”, elabora o músico. A música também recebeu uma gravação ao vivo.