Mesmo os fãs mais entusiastas de Wes Anderson sabem que o cineasta exagerou nas medidas em “Asteroid City”, em cartaz nos cinemas, elevando à enésima potência as suas experiências de linguagem. De realizador de comédias sobre personagens deslocados (“Os Excêntricos Tenembauns”), depois ando para narrativas estranhas e cultuadas (“Hotel Budapeste”) na segunda parte da carreira, agora ele praticamente abandona a comunicação fácil com os espectadores.

Para se ter uma ideia do caminho que ele tomou em “Asteroid City”, a história é contada em três níveis: um programa de TV que acompanha a preparação da peça de um dramaturgo, uma espécie de Orson Welles que constrói uma história sobre uma cidade no meio do nada do que servirá de ponto de encontro para tipos e situações bastante inusitadas. Os dois primeiros são contados por meio de imagens em preto e branco, enquanto o terceiro traz as típicas cores pastéis de Anderson.

Nem é preciso dizer que essa terceira camada é a que mais nos interessa, como um retrato crítico e bem-humorado da sociedade e cultura americanas da década de 1950. Apesar da difícil costura e da maneira como se mantém propositadamente distante dos acontecimentos, é possível enxergar várias referências à época, desde os filmes B de ficção científica, a problemática Marilyn Monroe, bomba nuclear e, principalmente, a paranoia gerada pela Guerra Fria.

Os “comentários” do diretor geralmente acontecem com um pequeno movimento lateral da câmera – é a de Wes Anderson. Aliado a composições simétricas, o filme sempre dá a sensação da mão do diretor ali como um inusual contador de histórias de comicidade inteligente. É como se desse uma piscadela para a plateia a cada vez que uma grande estrela (Margot Robbie, Tom Hanks, Scarlet Johansson, entre outros) assimila um tom melancólico.

Essa linguagem particular, no entanto, acaba nos saturando, porque, com tantos personagens, eles se tornam mera caricatura e logo se evidencia uma mão pesada por trás de cada sequência, como se quisesse esbanjar inteligência em situações que, de tão simplórias em seu tratamento, vão ficando surreais. Uma escolha que está sintetizada na fala de um dos personagens, que resume a história dentro da história como “sobre o infinito e não sei o que mais”.