Apenas 30,59% dos eleitores italianos compareceram às urnas na consulta popular que propunha reduzir de dez para cinco anos o tempo necessário para estrangeiros obterem cidadania italiana. A votação ocorreu nesta segunda-feira (9) e não atingiu o quórum mínimo de 50% mais um exigido pela legislação italiana para validar o resultado.

O fracasso do referendo aconteceu em meio a um boicote promovido pelo governo da primeira-ministra Giorgia Meloni, líder do partido de ultradireita Irmãos da Itália. A proposta de flexibilização das regras de cidadania poderia beneficiar aproximadamente 2,5 milhões de estrangeiros residentes no país.

Entre os eleitores que participaram da consulta, 65,49% votaram a favor da redução do prazo para naturalização, enquanto 34,51% se manifestaram contra a mudança. Cerca de 14 milhões de italianos compareceram às seções eleitorais distribuídas por todas as regiões do país.

A iniciativa do referendo recebeu apoio do Partido Democrático (PD), agremiação de centro-esquerda, e de diversas organizações da sociedade civil. Os defensores argumentavam que a redução do prazo para naturalização equipararia a Itália a países como França e Alemanha, facilitando a integração dos imigrantes.

Pesquisas realizadas em meados de maio já indicavam problemas de engajamento, revelando que apenas 46% dos italianos conheciam as questões abordadas no referendo. A votação também incluía temas relacionados ao fortalecimento das leis trabalhistas.

Meloni declarou-se "absolutamente contra" a proposta e incentivou o boicote. O resultado representou um revés para a oposição de centro-esquerda e para a Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL), principal sindicato do país.

Maurizio Landini, secretário-geral da CGIL, afirmou que o resultado demonstra uma "evidente crise democrática e de participação" na Itália. "Nosso objetivo era atingir o quórum, e claro que não o alcançamos. Hoje não é um dia de vitória", declarou. Apesar da derrota, Landini destacou que milhões de italianos compareceram às urnas, classificando esse contingente como "um número inicial" para continuar a luta por mudanças.

Em paralelo, o governo italiano recentemente endureceu as regras para concessão de cidadania aos descendentes de italianos no exterior, visando conter o que denominou de "comercialização" do aporte italiano. A nova legislação limita a transmissão automática da cidadania a apenas duas gerações, modificando o princípio do "jus sanguinis" que anteriormente não estabelecia limite de gerações.

A proposta afetaria diretamente milhões de estrangeiros que vivem na Itália e aguardam completar o período mínimo de residência para solicitar a naturalização. Atualmente, essas pessoas precisam comprovar dez anos ininterruptos de moradia no país antes de iniciar o processo de obtenção da cidadania italiana.