Um gesto isolado da vereadora Adriana Souza (PT) provocou desconforto na bancada petista e tensões internas na Câmara Municipal de Contagem. Vice-líder do governo Marília Campos (PT), Adriana anunciou que vai devolver a parcela de seu salário correspondente ao reajuste salarial aprovado pela Casa no dia 27 de maio. A atitude, considerada quase altruísta, rendeu elogios do público nas redes sociais, mas também críticas nos bastidores da política local.

Na publicação, a vereadora reconheceu a legalidade do aumento, mas criticou duramente a decisão dos colegas parlamentares que garantiu um segundo aumento da remuneração dos políticos em menos de seis meses. “Não acho justo que, enquanto parlamentares reajustam seus próprios salários em busca do ‘teto’, categorias como a enfermagem e a educação lutam por um ‘piso’ nacional mínimo”, escreveu.

Parlamentares ouvidos pela reportagem, sob condição de anonimato, questionam o fato de Adriana Souza ter se ausentado das sessões decisivas e de ter evitado o debate antes de se manifestar publicamente. “Houve desconforto, sim. A Adriana é vice-líder de governo, faltou a duas sessões, não discutiu o tema no plenário e depois fez uma postagem crítica”, afirmou um dos vereadores.

No início da postagem na qual o anúncio de devolução do salário foi feito, Adriana se eximiu de responsabilidade pelo aumento. A parlamentar lembrou que não participou da votação que incluiu uma emenda no projeto de recomposição salarial dos servidores, aprovado no dia 27 de maio, e garantiu o aumento também aos vereadores. Ela estava em Brasília cumprindo agenda oficial, previamente comunicada à Câmara. A vereadora afirma que, antes de deixar Contagem, havia o entendimento de que o reajuste aos parlamentares não seria pautado. “A informação era de que a proposta só avançaria se houvesse consenso, o que não havia”, declarou.

Parlamentares, no entanto, contestam essa versão. De acordo com eles, Adriana Souza tinha conhecimento das articulações em curso e de que havia maioria para aprovação da proposta. A crítica entre os pares é que a manifestação da petista veio “tarde e com o tom errado”, o que, segundo eles, prejudica o diálogo dentro da Casa. “Seria melhor ter se posicionado no plenário, antes da votação”, opinou outro vereador.

Racha na bancada petista

A situação acentuou ainda um racha anterior dentro da bancada petista. Enquanto Adriana se posicionou contra o reajuste, os outros dois vereadores do partido, Moara Saboia e Zé Antônio do Hospital, votaram a favor da medida, acompanhando o que seria um acordo prévio entre os parlamentares. O gesto da colega de legenda – que estaria trabalhando para viabilizar seu nome para voos mais altos nas eleições do próximo ano ou até mesmo como sucessora de Marília Campos em 2028 – teria causado um incômodo com potencial para abalar a coesão do grupo. 

A situação tem recebido panos quentes, até mesmo para evitar repercussões maiores que possam prejudicar a imagem de vereadores que votaram a favor do reajuste. Mas ainda não se sabe como isso pode influenciar o trabalho de Adriana ao atuar para articular os interesses do governo municipal no Legislativo de Contagem.