O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reclamou, neste domingo (3), da falta de interesse de países da União Europeia (UE) em fechar um acordo de parceria com sul-americanos que compõem o bloco do Mercosul. Para ele, o excesso de protecionismo dos europeus, fechados à perspectiva de “qualquer concessão”, é o que vem deixando mais distante as chances de avançar nas negociações.
“Se não tiver acordo, paciência, não foi por falta de vontade. A única coisa que tem que ficar claro é que não digam mais que é por conta do Brasil e que não digam mais que é por conta da América do Sul. Assuma a responsabilidade de que os países ricos não querem fazer um acordo na perspectiva de fazer qualquer concessão, é sempre ganhar mais e nós não somos mais colonizados, nós somos independentes, nós queremos ser tratados apenas com o respeito de países independentes que temos coisas pra vender, e as coisas que temos têm preço. O que queremos é um certo equilíbrio”, disse Lula.
O presidente brasileiro, que ou os últimos dias no Oriente Médio, onde participou da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-28), se reuniu no sábado (2) com o presidente da França, Emmanuel Macron, na tentativa de convencê-lo a aderir ao acordo. Após o encontro, o francês se declarou contrário às negociações. Para ele, a parceria Mercosul-UE é “incoerente” e “mal remendada” e “não leva em conta a biodiversidade e o clima”. “É um acordo comercial antiquado e que desfaz tarifas”, disse Macron.
Lula defende mudanças em pontos do acordo de livre comércio sobre licitações de compras governamentais sob a justificativa de ser uma política indutora do desenvolvimento da indústria nacional e oportunidade para pequenas e médias empresas. Para ele, a França é protecionista sobre seus interesses agrícolas.
“Se não tiver acordo, pelo menos vai ficar patenteado de quem é a culpa. Agora, o que a gente não vai fazer é um acordo para tomar prejuízo”, emendou Lula. De Dubai, nos Emirados Árabes, o presidente seguiu para Berlim, na Alemanha, onde tem compromissos da agenda bilateral. O país é um dos que defende o acordo Mercosul-UE.
Após 20 anos de negociações, o acordo Mercosul-UE foi aprovado em 2019, mas precisa ser ratificado pelos parlamentos de todos os países dos dois blocos para, só então, ar a valer. Ele cobre temas tanto tarifários quanto de natureza regulatória, como serviços, compras públicas, facilitação de comércio, barreiras técnicas, medidas sanitárias e fitossanitárias e propriedade intelectual. Ao todo são 31 países.