O que era para ser um grupo no WhatsApp para trocar informações sobre frilas de segurança de festa virou uma rede com mais de 500 mulheres. E foi dessa rede que nasceu a empresa de vigilância patrimonial Nat Security, que leva o nome da fundadora. Há dez anos, com filho pequeno, a Nat decidiu largar um emprego no comércio, fez um curso de vigilante, começou a trabalhar em eventos e, com o tempo, ficou tão conhecida em Belo Horizonte que precisou chamar reforços para atender a demanda. 

“Foi uma mulher que me impulsionou. Ela gostou da minha abordagem de conversar com as pessoas na portaria e me perguntou: ‘Nat, você consegue juntar mais 14 de você para um evento?’. Eu falei: ‘Uai, vamos tentar’”, lembra Nat. Deu certo. Ela abriu uma empresa e ou a contratar apenas mulheres. 

Segundo a pesquisa Mulheres Empreendedoras, do Sebrae Minas, 39% das empreendedoras promovem iniciativas voltadas para a equidade de gênero, e 21% priorizam a contratação de outras mulheres. 

Assim como Nat recebeu o “empurrão” de uma mulher para começar seu negócio, ela decidiu fazer o mesmo para ajudar outras. “E aí a Nat Security foi crescendo organicamente, e eu fui trazendo outras parceiras. É muito bom quando eu as vejo tirando carteira de motorista, batendo laje, podendo cuidar dos filhos. É muito gratificante ver que eu consigo pegar na mão de várias mulheres”, compartilha a empreendedora. 

A Érica Alves é uma delas. “Depois que comecei a trabalhar com a Nat, minha renda aumentou e consegui pagar meu curso de técnico em enfermagem. Por também ser mãe, ela tem muita empatia, entende quando eu preciso faltar por causa do meu filho; porque ser mãe solo é muito difícil, ter que cuidar de casa, trabalho, curso e filho”, relata.

Lá em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, outra Érica também encontrou apoio em uma rede de mulheres empreendedoras. Há dez anos, a Érica Ferreira Rafael trabalhava para uma empresa de recrutamento na área de recursos humanos, mas percebeu que tinha chance de ganhar mais se trabalhasse por conta própria. E ela estava certa. Depois de ser demitida, abriu um MEI e criou a Company Consultoria de Recrutamento e Seleção.

Erica Rafael e as irmãs, que também trabalham na Company RH e foram uma das redes de apoio da empreendedora (Foto: Arquivo pessoal)

Diante das burocracias e sem muito conhecimento de gestão, ela foi procurar ajuda. Encontrou o Moeda de Troca, um coletivo criado pela Lu de Souza para contribuir para a trajetória de mulheres empreendedoras, por meio da troca de conhecimento e capacitação. “A Lu me atendeu com sede de ajuda. Ela ouviu toda a minha história, me convidou para ir a um encontro. Lá, eu vi outras empreendedoras, e aquilo ali foi gás para mim, ver que estava no meio daquelas mulheres e que elas tinham ali muitas dores, assim como histórias de sucesso também”, conta Érica Rafael, que conta com a ajuda das irmãs.

Segundo a Lu, que estendeu a mão para Érica, ninguém faz movimento em rede como as mulheres. “A mulher tem a questão de apoiar e de ajudar dentro dela. Quando ela entende a força desse compartilhamento, isso faz a diferença no mercado e no mundo como um todo”, destaca Lu. 

A coordenadora nacional do Sebrae Delas, Renata Malheiros, lembra que, até 1962, uma mulher sequer poderia abrir uma conta bancária se não tivesse autorização do marido. E, ainda hoje, a empreendedora enfrenta vários desafios, agravados pelo machismo estrutural. “As redes de mulheres são um grande antídoto para mudar isso. Quando uma mulher está conectada com outras, seja em um grupo no WhatsApp ou em outros formais, como a Rede Mulher Empreendedora, é onde a mágica acontece”, afirma Renata.