No começo, eram cinco amigas, um grupo de WhatsApp e um sonho: trocar experiências para empreender melhor. “E o que nasceu ali, entre nós, em um mês já reunia 300 mulheres. Com dois meses eram 1.500. Com três meses eram 6.000 e, hoje, seis anos depois, são 40 mil”, conta Lu de Souza. Em 2019, ela fundou o Moeda de Troca, um coletivo que se tornou um dos maiores hubs de empreendedorismo feminino do Brasil. 

A força que vem de uniões como esta foi estatisticamente medida. Segundo um estudo realizado pelo Núcleo de Microempreendedorismo (Nume) da PUC-Rio, quando mulheres empreendedoras recebem apoio, a chance de sobrevivência do negócio aumenta de 70% para 83%. 

“Para os homens, receber ajuda não faz uma diferença significativa. Mas, para elas, o apoio recebido atua como um fator de equilíbrio, contribuindo para fechar a lacuna de gênero”, explica a pesquisadora alemã Anna-Katharina Lenz, cofundadora do Nume em parceria com a professora Renata Brito, da Escola de Negócios da PUC-Rio. Juntas, elas ouviram 386 empreendedores brasileiros para o estudo, e os resultados serão divulgados no artigo “Peer and Value Creation among Women Entrepreneurs” (“Apoio entre pares e geração de valor entre mulheres empreendedoras”, em tradução livre), com publicação prevista no periódico internacional Small Business Economics Journal.

Dra. Anna-Katharina Lenz, professora de Empreendedorismo na Universidade de Miami em Oxford (EUA), e cofundadora do NUME - FOTO: Arquivo pessoal

Segundo Anna-Katharina, o que diferencia o perfil da mulher em relação ao do homem no empreendedorismo é um olhar antecipado do todo e uma escuta mais aberta. “Elas são mais empáticas com outras mulheres empreendedoras. Eu vejo isso na forma como contratam e como apoiam umas às outras. Não é que o homem não apoie o outro, só que ele é mais objetivo e ajuda quando alguém pede. Já as mulheres, pelo contexto em que vivem, carregam certa previsão e conseguem antecipar a ajuda”, explica. 

Anna-Katharina cita um exemplo que viu durante sua pesquisa de campo. “Se uma empreendedora vê outra mulher grávida, já pensa que, lá na frente, ela vai precisar se afastar do emprego. Então, já ensina algo para gerar sustento quando aquele filho nascer”, exemplifica. 

Na avaliação da pesquisadora, no Brasil o empreendedorismo feminino tem uma característica social que ultraa a manutenção de um negócio. “As empreendedoras também constroem redes, criam valor coletivo e reimaginam o empreendedorismo como uma prática de resistência, solidariedade e esperança”, conclui o estudo. 

Empreendedoras compartilham mais informações e desafios 

Em sua pesquisa, Anna-Katharina comprovou que as mulheres compartilham mais informação sobre programas de apoio a empreendedoras, problemas que elas enfrentam e momentos de crise, ou seja, elas criam uma rede de apoio que vai servir como referência. E foi exatamente nisso que Lu de Souza se transformou ao fundar o Moeda de Troca, um coletivo criado para melhorar a jornada das empreendedoras por meio da capacitação e da troca de conhecimento entre mulheres.

Encontro do Moeda de Troca, um coletivo criado para melhorar a jornada das empreendedoras - FOTO: Arquivo Pessoal

Quando o grupo foi fundado, Lu já tinha uma trajetória como empreendedora. “Eu fiquei viúva e grávida ao mesmo tempo e tive que remodelar minha vida, porque não tinha rede de apoio familiar por perto. Me mudei do Alto Paranaíba para Uberlândia”, conta. Depois que a filha nasceu, ela abriu mão da CLT e empreendeu no ramo de joias. 

Com o ar do tempo, Lu se conectou a uma rede de empreendedorismo feminino, buscou mais especializações e percebeu a importância de dividir tudo com outras mulheres que, muitas vezes, não têm e sequer da família e, portanto, não têm tempo para capacitação. Isso se reflete nos negócios, pois, segundo dados do Sebrae Minas, a falta de conhecimento em gestão é o principal desafio para seis em cada dez empreendedoras.