BRASÍLIA – Um dia após sua demissão do Ministério da Saúde, Nísia Trindade afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) justificou sua saída pela necessidade de uma mudança de perfil na pasta. Ainda na noite de terça-feira (26), o Palácio do Planalto confirmou Alexandre Padilha, atual ministro da Secretaria de Relações Institucionais, como o sucessor.

"A conversa com o presidente tem o tom dele me comunicar sua avaliação desse segundo momento do governo, vamos dizer assim, e que ele achava importante uma mudança de perfil à frente do Ministério da Saúde e me agradeceu pelo trabalho realizado. Esse foi o tom", afirmou Nísia a jornalistas na manhã desta quarta-feira (6).  

Ela ainda afirmou que a avaliação do presidente foi de que as dimensões técnico-políticas neste momento eram mais importantes: “O que eu disse pra ele, eu repito aqui: ele é o técnico de um time, faz parte da vivência de qualquer governo a substituição de ministros. Isso nada depõe em relação ao meu trabalho. Eu sou muito consciente disso”. 

Ao ser questionada sobre o processo de "fritação" nos últimos meses, Nísia criticou a divulgação de informações falsas sobre sua saída, como a alegação de que teria feito uma reunião de despedida na pasta.

“Estou me referindo ao que vocês chamaram de fritura na imprensa. Isso é inconcebível e não deveria acontecer. O correto seria apurar os fatos, sem antecipar decisões que cabem exclusivamente ao presidente”, afirmou. Ao final, ela foi aplaudida por servidores do Ministério da Saúde. 

Desde o início do governo, Nísia Trindade enfrentou críticas de congressistas, integrantes do governo e do próprio presidente Lula. Ele apontava a ausência de uma marca forte em sua gestão, como o Mais Médicos e o Farmácia Popular em governos anteriores do PT, e avaliava que faltava firmeza na condução de crises na área da Saúde.

A ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) não conseguiu, por exemplo, impulsionar o programa "Mais o a Especialistas", lançado em abril de 2024, com o objetivo de reduzir a fila do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, a pasta enfrenta desafios como o combate a fake news.

Com a popularidade do presidente em baixa, também pesou a pressão do Centrão por mais ministérios. O da Saúde era um dos mais almejados por causa da visibilidade e do Orçamento – R$ 239,7 bilhões só neste ano. Na disputa, Lula optou por manter o PT à frente da pasta por seu fator “social”, especialmente com a proximidade das eleições.

Padilha assume a pasta

Alexandre Padilha assumirá o cargo em 6 de março. Hoje ele comanda a articulação do governo federal com Senado e Câmara dos Deputados. Entre os nomes cotados para substituir ele estão: o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos-PB), e o líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL). 

Pelo PT, os nomes apresentados incluem Jaques Wagner (BA), líder do governo no Senado, e José Guimarães (CE), líder do governo na Câmara dos Deputados.

Médico infectologista, Padilha foi titular do Ministério da Saúde entre janeiro de 2011 a fevereiro de 2014, durante o governo de Dilma Rousseff (PT). Na época, ele deixou o cargo para concorrer ao governo de São Paulo nas eleições de 2014. Ele ficou em terceiro lugar na disputa, que teve o hoje vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) como vitorioso. 

O nome de Alexandre Padilha foi defendido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, seu amigo de longa data. Padilha atuou como secretário municipal de Saúde de 2015 a 2017, durante a gestão de Haddad na Prefeitura de São Paulo. A escolha de Lula também foi interpretada como uma vitória para Haddad.

O chefe da equipe econômica do governo “venceu” o ministro Rui Costa (Casa Civil), que buscava emplacar outros nomes para a pasta - entre eles o de Arthur Chiodi, que foi sucessor de Padilha na saúde na gestão de Dilma Rousseff. O ex-ministro também preferiu permanecer como presidente da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

Padilha continuará em contato com o Congresso Nacional

À frente da Secretaria de Relações Institucionais, Padilha enfrentou diversas críticas de parlamentares, especialmente por sua falta de habilidade política. O ápice ocorreu quando o então presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), o chamou publicamente de "incompetente" e disse que não negociaria mais com ele. 

Contudo, Padilha não sairá de cena estando no comando da Saúde. A pasta é a que detém o valor mais expressivo de emendas parlamentares na Esplanada dos Ministérios. E foi justamente a demora na liberação do pagamento delas que fez o Centrão pressionar pela saída de Nísia Trindade.